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você é um amante de meio-período e um amigo em tempo integral. o seu vício é a última moda, i don't see what anyone see, in anyone else.. but you. aqui está a igreja e aqui é o campanário. com certeza nós somos fofos para duas pessoas feias. i don't see what anyone see, in anyone else.. but you. ambos temos brilhantes e felizes acessos de raiva. eu quero mais fãs, você quer mais palco. i don't see what anyone see, in anyone else.. but you. você está sempre tentando ser verdadeiro. eu estou apaixonada pelo jeito como você se sente. i don't see what anyone see, in anyone else.. but you. eu beijo sua cabeça na sombra de um trem. eu te beijo com um olhar estrelado. meu corpo está oscilando de um lado pro outro. i don't see what anyone see, in anyone else.. but you. os pedregulhos me perdoam, as árvores me perdoam, então por que você não pode me perdoar!?<br>
..eu não vejo o que qualquer um pode ver,
em qualquer outra pessoa,
além de você.
du dududu dududu du dududu.. du dududu dududu du dududu.. i don't see what anyone see, in anyone else.. but you.
anyone else but you.
- The Moldy Peaches
quarta-feira, março 19
(...)
quarta-feira, março 12
Querida Camille;
eu não sei começar cartas a não ser ridicularizando o fato de não saber começar cartas. é ridículo, mas evita qualquer tipo de pensamento muito profundo da minha parte. et ce que stupéfie ainsi au sujet des pensées vraiment profondes de toute façon? sobre o clima, posso te dizer que desde que voltamos a co-habitar o mesmo país, eu não tenho me importado muito com o clima, afinal, debaixo das minhas cobertas é onde tenho passado a maior parte do meu tempo.
e como eu te disse outro dia, Cami, nós somos um tipo de oposto. eu tenho as coisas que você pensa que quer, e não sou feliz. você tem todas as coisas que eu talvez pudesse pensar que queria, e também não é ao todo feliz. mas felicidade? é isso que a gente quer? vai saber, né. posso te dizer também, que enquanto você estiver na fase três; fazendo lanchinho pro seu filho de manhã, enquanto o seu marido toma banho um pouco atrasado pro trabalho, mas não o suficiente pra não voltar e te dar um beijo daqueles meio tira-fôlego, meio empolgado demais pra ser um comercial de margarina; é muito provável que eu ainda não esteja em fase nenhuma. ou é capaz que eu passe, voltando de algum lugar de madrugada, com algum amigo, pela frente de uma casa bonitinha, e pense “pôxa, que casa bonita” e nunca saiba que é você que mora ali. é muito capaz que eu nunca cresça. nunca crie senso de responsabilidade, mas continue chorando toda vez que assisto a comédia da minha vida privada. (ando sofrendo de medo antecipadamente, dificuldade em aceitar tudo que ainda não aconteceu) era sobre isso que eu queria falar, Cami. sobre como a maior parte do tempo, eu consigo ser assim, assim, do jeito que você sabe que eu sou, sem me importar muito com coisas, lugares, compromissos, mas sempre preocupada sobre quem vai estar do meu lado. a única coisa que eu levo um pouco à sério (talvez até demais) seja isso. quem eu quero ter por perto. toda vez que minha mãe me manda daqueles spams de gente morrendo pela África, eu choro, sofro, tenho pesadelos, e aí... acostumo. tem um mendigo que está sempre sentado na padaria na rua da minha casa. antes eu passava e abaixava a cara de vergonha, porque, de fato, se eu desse pra ele o meu dinheiro, teria que caminhar até meu destino. depois de um tempo, aí depois de um tempo; parei com isso de olhar pra baixo com vergonha. e é agora que te pergunto, por quê? se tem uma coisa mais vergonhosa do que essas situações todas existirem, é o fato de que depois da segunda ou da terceira vez, a gente não consegue mais sentir a dor. sentir a angústia. sentir o fato que eu estaria hoje dando todo meu dinheiro pra esse senhor, e ela ainda estaria morando na rua. poderia ter ido numa missão para a África, e a guerra ainda estaria acontecendo. eu poderia também estudar um monte e tentar um dia entrar para a carreira política e não deixar a tentação do poder me corromper, e aí declarar a paz mundial e… é, também não podia. então; minha vida inteira é essa sensação. sensação de poder tudo, e ao mesmo tempo, não poder nada. saber que faça o que eu fizer, no fundo, é só um grão de areia no meio do mar. e aí é onde eu volto pras pessoas. o mendigo que ficava na minha rua, não fica mais, não sei o que houve com ele.
eu não mudei a vida dele, mas pelo menos um dia ele falou que me amava, e seria assim. sei lá. não é mais a mesma história que eu estava contando, né? não. de fato, não é. mas é algo que eu posso fazer. eu sabia que não ia conseguir explicar isso direito. eu sabia que ia parecer “as memórias da menina mimada, volume 1”. e o que eu quis dizer não foi nada disso. só quis dizer que, por mais estúpido que pareça, eu não consigo viver minha vida me colocando em primeiro lugar. eu sempre coloco os outros. os que eu amo, e os que eu acredito que precisam de mim muito mais do que eu preciso deles. e isso não é bonito, isso é extremamente auto-destrutivo, e a quantia absurda que eu gasto todo mês para me manter levemente funcional talvez poderia ser prova disso. mas a melhor prova é justamente essa, o meu lugar debaixo do meu cobertor. daonde só saio quando meus amigos choram ou é fisicamente necessário. não levantaria um dedo por mim mesma, mas cortaria o braço fora pelos outros. e é por isso que você vai conseguir chegar na fase 3, aos 40 e assim por diante. e eu? eu vou estar aqui, igual todos os outros trouxas que são ingênuos o suficiente para acreditar nos outros e tentar achar algo de bom. tentar ver a bondade alheia. não sou nem um pouco altruísta. sou só uma garota perdida, que já não tem mais idade pra ser tão garota, mas também não sabe como mudar.
nem a mim mesma, nem aos outros, nem ao mundo.
m*
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